Por que o Japão importa tanto para a economia global
O Japão é o país mais endividado do planeta e qualquer um que já estudou um pouco sobre a economia japonesa já concluiu que a dívida é insustentável e ou juros tem que subir demais, o que poderia quebrar o governo, ou então o Banco Central vai emitir moeda para pagar a dívida passada, já que a maior parte dela está emitida na moeda local, o que poderia gerar muita inflação. E é verdade, o que acontece no Japão repercute no mundo inteiro, podendo impactar até mesmo a taxa de câmbio do real brasileiro ou a bolsa americana. Então, é importante entender o que está acontecendo e como essa história pode acabar. E se você está acompanhando esses movimentos todos, comente aqui abaixo. Se tiver também alguma dúvida, coloca nos comentários. E para quem não me conhece, meu nome é Fernando Urit. Aqui a gente fala de economia, mercados e investimentos. Tem vários vídeos aqui no canal sobre esses assuntos. E se você gostar do vídeo, compartilhe, se inscreva no canal, até porque tem muita gente que acompanha os nossos vídeos e até hoje não está inscrita. Então, se for o seu caso, se inscreva e compartilhe o vídeo. Pois bem, definitivamente 2025 é o ano do macro, porque macro importa, importa cada vez mais. A gente vem comentando desde que o plano econômico de Trump foi sendo descoberto, até hoje ele não foi revelado de verdade, mas a gente foi entendendo cada uma das peças, como elas se encaixam e o que pode acontecer com o dólar, com os mercados e com o restante do planeta. Mas a verdade é que neste mapa mundi, nesse tabuleiro ou no dominó da economia mundial, o Japão é uma das peças mais importantes, não apenas porque é o país mais endividado, mas porque ele também é o país que mais avançou no sentido de intervencionismo monetário pelo Banco Central do Japão, o famoso Bank of Japan ou BJ. e também por conta da questão fiscal, que dos países desenvolvidos é a mais calamitosa e preocupante de todas. Então, digamos que o que acontece com o Japão, que está mais avançado nesse estágio, é o que pode acontecer com os demais países, porque o mundo inteiro está muito endividado. É Japão, é Estados Unidos, é França, é Itália, é Reino Unido. Então é importante entender exatamente o que acontece com a economia japonesa. Agora, o que que deflagrou essa disparada de juros mais recente? em que vimos até mesmo aqui os juros de 30 anos do Japão, o de 40 anos e o de 10 anos, todos disparando fortemente. O de 40 anos chegou acima de 3.6%. Até inclusive no dia de hoje aqui colocar porque estou gravando aqui na quinta-feira, dia 22 de maio, temos aqui o tesouro japonês de 40 anos, chegou a 3.7%, é a máxima histórica, então sim, os juros estão subindo muito por lá. E no caso desse que a gente acabou de colocar aqui, que são e os três principais, 10 anos, 30 anos e 40, praticamente a máxima histórica do de 30, de 40, o de 10 ainda não, mas não para de subir. E para uma economia que está muito endividada, quando sobem os juros, isso pode ser um grande problema, não apenas para o mercado em si, mas também pro governo. A gente vai explicar melhor como isso acontece na prática. Mas por que que houve essa disparada? Além dos juros estarem subindo nos Estados Unidos e em boa parte do planeta, houve também algumas notícias específicas do Japão, como por exemplo esta aqui em que o primeiro ministro disse que a situação fiscal do país é pior que a da Grécia. Todo mundo se lembra da crise de dívida soberana da Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Irlanda lá em 2011, 12, pois agora o premier do governo admitindo que a situação é pior até mesmo que a da Grécia. E como se não bastasse isso, no mesmo dia, foi no dia 19 que ele falou isso, no dia 20 de maio também, então um dia depois teve um leilão de títulos do governo japonês de 20 anos e que foi a pior demanda em mais de 10 anos, que foi desde 2012, não tinha um leilão tão ruim assim. Então, claro que isso preocupou, porque significa que os investidores não estão mais demandando tanta dívilda japonesa ou não nessa taxa de juros, estão exigindo um prêmio maior. E aí que vem as complicações todas, porque com essa disparada de juros, há algumas consequências pro sistema financeiro local, pro sistema financeiro global e pro governo japonês. E eu não vou entrar neste vídeo agora na questão do carry trade, a reversão do carrego, a aposta do carrego, até porque já fizemos alguns vídeos sobre o assunto, eu vou relembrar eles, colocar aqui em cima ou na descrição do vídeo, que tem a ver com os investidores que se alavancam na moeda japonesa, porque tem um juros muito baixo, é o mais baixo do mundo, para investir em outros mercados, como nos Estados Unidos, até mesmo no Brasil, para pegar o nosso carrego. E esse é o motivo que pode impactar também esse movimento todo, a nossa taxa de câmbio, porque se sobe juros por lá, os investidores podem ter que recomprar ienes para repagar a dívida que ficou mais cara e vendem as suas posições do restante do mundo, inclusive no Brasil e também no mercado americano. Então essa questão específica do Carry Trade, mas eu não vou adentrar neste vídeo específico, porque o mais importante é a gente entender como isso impacta o governo do Japão. E a gente precisa relembrar alguns dados que são assombrosos da economia do Japão. Primeiro, o déficit fiscal que vem desde o final, desde o início da década de 90, logo depois que estourou a bolha de ativos do Japão, a bolha imobiliária, a bolha de ações que foi o foi durante a década de 80 e que estourou no fim de 89. Desde então, o governo japonês vem incorrendo em fortes déficits, tanto primário quanto nominal. Lá no final da década de 90 chegou em quase 10% do PIB. Mesma coisa depois na crise financeira 2008. Conseguiu recuperar um pouquinho, mas em todos esses anos continua com um déficit de pelo menos 2% do PIB, o que significa que a dívida não para de crescer. E se lá em 96 era 100% do PIB, agora já ultrapassa 237%. Não tem nenhum país com tanta dívida hoje, não tem nenhum governo tão endividado quanto esse. E se o governo tá endividado nessa magnitude, significa que um aumento de juros vai aumentar a despesa de juros do Japão. Mas como eles têm uma dívida mais alongada, o prazo médio da dívida é um pouco mais elevado, esse impacto não é imediato. Não é como no Brasil que se aumentar a CELIC já tem dívida atelada, logo isso já vai resultar em despesa maior de juros pelo governo. No Japão há uma defasagem maior, mas sempre que o governo precisa emitir um título novo, como foi agora nesse leilão de 20 anos, o juro que ele vai pagar é o juro que tá valendo no mercado. E se estão cotando a dívida japonesa em 3,5% ou 3%, ele vai ter que pagar o que o mercado está exigindo hoje. Então é um problema que pode aumentar ao longo do tempo. Só para colocar em perspectiva hoje dos países desenvolvidos principalmente ou que fazem parte aqui da OCDE, os mais preocupantes, claro, Estados Unidos, já falei sobre Estados Unidos no passado em vídeos recentes. A Grécia em segundo lugar, aqui aqui é o o total de gasto com juros em relação ao PIB. Tem um gráfico aqui de cortesia do Tav Costa, da Crescat Capital. Grande abraço pro Tavi Costa. Mas vejam que o Japão tá lá atrás apenas 0.5%. Mas claro, hoje ele ainda paga juros muito baixo. À medida que esse juros vai aumentando e se a dívida longa também aumenta, quando ele precisar refinanciar a dívida, repagar a dívida passada, precisa emitir dívida nova, ele vai ter que pagar o juro de mercado. Então é um potencial problema, sim para o governo japonês. Qual é o outro problema que traz pra economia japonesa, especialmente pro sistema financeiro? O aumento de juros, especialmente dos juros longos, significa que o preço do título está caindo. Se aumenta o juro, é que o preço do título caiu. E quando esse aumento é muito rápido e muito expressivo, eu fiz um cálculo na num vídeo recente. Se o juro de 40 anos, título japonês de 40 anos salta de 3,5, ou melhor que foi, de 2,5 para mais de 3,5, é uma perda de valor de face de mais de 30%. Então imagina em duas, três semanas o título que você tinha na carteira perder mais de 30% do valor. E por que isso é um problema? Porque muitos bancos japoneses, fundos de pensão, estão encarteirando a dívida do Japão, já que a maior parte da dívida também ela é financiada localmente por bancos locais, por investidores locais, por fundos de pensão. Então, possivelmente isso já está gerando grandes perdas em bancos, as perdas ainda não realizadas. em bancos e em fundos de pensão. Então esse é um problema que não pode ser menosprezado. Além disso, a inflação no Japão, preciso relembrar aqui, vamos lá, depois de muito tempo, com inflação rondando 0 ou 1% até a deflação, finalmente o Banco Central conseguiu gerar mais inflação do Só que agora tá gerando até mais do que gostaria e por mais tempo. A inflação no Japão está mais alta que nos Estados Unidos. 3.6% foi a última leitura de março deste ano, segue no patamar alto, especialmente para padrões históricos dos japoneses, o que traz um problema, porque é aí que os fundos de pensão, investidores vão exigir um prêmio maior para não obterem um retorno real negativo. P assim, fala tá três e o tesouro 10 anos paga 1,5 ou a taxa básica paga meio, isso é juro real negativo. então vão exigir mais prêmio para financiar a dívida do Japão. Então esses são os problemas macro que o governo tem e o Banco do Japão também. Mas vejo muitos analistas concluindo que, pô, se a dívida tá emitida em y japonês, que é moeda local que o Banco Central pode emitir, basta ele injetar liquidez, comprar essa dívida pública, o que se chama monetizar a dívida pública, e o problema está resolvido. A questão é que o Banco Central do Japão já vem fazendo isso há muito tempo e cada vez mais. Hoje, o montante que o Banco do Japão tem no seu balanço é de 52% da dívida nacional. Então imaginem que tudo que tem da dívida nacional do Japão emitida, 52% está na carteira do Banco Central do país. Então hoje é o Banco Central já financiando diretamente. Para a título de comparação, no caso americano, o Fed detém apenas 14% da dívida pública. Ah, mas o Banco Central não poderia comprar mais? Olha, pode seguir comprando mais. Até que é um gráfico similar, mas no caso aqui mostrando todos os ativos do Banco Central em relação ao PIB do país. Vejo aqui nos Estados Unidos é 22,5%, no Japão já ultrapassa 124%. Então poderia no limite o Banco Central comprar mais dívida japonesa, mas vai chegar um momento em que ele vai corresponder a 60% da dívida, a 70, a 80, a 100%. E no fim das contas vai ser o Banco Central financiando todo o déficit do Japão, o que pode desencadear em inflação direta, porque é o Banco Central imprimindo dinheiro para bancar o déficit fiscal. Esse é o problema e isso pode gerar a inflação e os resultados, a consequência disso aí ninguém sabe porque nunca chegamos num país desenvolvido nessa situação. Mas essa não é a única alternativa que hoje tem o governo japonês ou o Banco do Japão. Porque apesar desse endividamento do governo e da economia como um todo, o Japão com relação ao estrangeiro é um credor externo. Exatamente. O oposto dos americanos, que são devedores externos, na ordem de 26 trilhões de dólares ou 90% do PIB, o Japão tem trilhões de dólares de ativos excedentes no exterior, portanto é um credor externo. O que significa que ele tem de onde tirar ou tem o que vender para conseguir dinheiro, repatriar capital e adquirir mais da dívida pública do governo. Pra gente contextualizar isso, entender também aqui a magnitude, deixa eu colocar agora aqui na tela. Essa é a famosa posição de investimento internacional aqui do Japão em Enes. 547 trilhões positiva, portanto, um credor, o que equivale a mais ou menos 3,8 trilhões de dólares. E por que um credor? Porque tem muito mais ativos no exterior do que tem passivos a favor do estrangeiro. O que os estrangeiros t de ativos no Japão é menos do que o Japão tem de ativos no estrangeiro. E onde estão alocados esses ativos? Investimento estrangeiro direto seria a maior parte que tá aqui em azul claro. Então participações diretas de empresas privadas que não são negociadas na bolsa. Depois, a maior parte investimento em carteira, ações negociadas em bolsa, dívida corporativa e, por fim, reservas internacionais, que é aquele dinheiro que pertence ao próprio governo japonês, que na sua maior parte está denominado em dívida pública e na sua maior parte dívida pública dos Estados Unidos. Então, os japoneses têm muitos ativos que eles poderiam utilizar para num cenário mais estressado, imaginando o seguinte: os juros seguem disparando, o Banco Central não quer monetizar mais tanto a dívida pública com o medo de gerar muita inflação localmente. E o governo, por algum mecanismos, por incentivos ou por força da lei, pode influenciar ou obrigar fundos de pensão, o próprio governo e outros investidores locais a repatriar esses ativos externos. Vende lá fora, vende ação americana, vende dívida corporativa, vende treasuries, traz o dinheiro de volta para o Japão para comprar a dívida pública e assim ajuda a financiar o déficit local. Esse é o movimento, esse é um guia que pode servir também para outros países, especialmente nesse ambiente de guerra tarifária, de busca por desvalorizar o dólar e diminuir o déficit comercial americano. Tudo isso está em linha. Seria tudo na mesma direção agora, não apenas porque o governo americano gostaria, mas também porque o governo japonês precisaria. E esse é o mundo que nós estamos vivendo, especialmente os países mais endividados podem encontrar soluções como essa em que veremos a repatriação do capital. E quando isso acontece, os ativos que estão hoje em posse desses países, aqui, por exemplo, no caso Japão, eles podem sofrer. Então, imagine o quanto que o SP500 não poderia sofrer se os japoneses começam a vender mais suas posições nos Estados Unidos. E só para trazer um dado, como muita gente nem percebe, mas especialmente os países desenvolvidos têm muitos ativos nos Estados Unidos. Essa é uma notícia do Financial Times, dia 21 de maio agora, então ontem falando sobre como o fundo de pensão maior do Canadá tem praticamente 50% dos ativos investidos nos Estados Unidos. Então, vejam a magnitude de desse investimento na economia americana e como há essa interdependência e como essa reversão dos fluxos comerciais e, portanto, de capitais também pode dar impactos em ativos no mundo inteiro. No final das contas, a guerra tarifária é nacionalismo comercial, o que equivale a nacionalismo de capital. E enquanto Trump quer repelir o capital estrangeiro para reduzir o seu déficit comercial, os demais países como o Japão podem antecipar e intensificar esse movimento ao repatriar o capital que hoje está nos Estados Unidos para financiar as dívidas, para financiar o governo local. E outros países endividados podem querer fazer o mesmo. Pois é, nunca foi tão importante entender de macroeconomia. Espero gostar desse vídeo. Compartilhem, se inscrevam no canal. Quem não faz parte ainda do Follow da Money, siga o dinheiro e aguarde que agora na segunda-feira, dia 26 de maio, teremos o novo documentário O futuro do dólar, uma história, uma investigação profunda sobre a crise da dívida americana. Agora sim, fico por aqui. Até o próximo vídeo.
🎬 Assine o Follow the Money e assista agora ao documentário que investiga a dívida dos EUA e seus efeitos no mundo. https://liberta.click/follow_the_money
A economia japonesa pode estar uma encruzilhada. A alta taxa de juros pode estar encurralando o Banco do Japão e os efeitos desse movimento pode causar um efeito dominó em toda a economia global, afetando inclusive a taxa de câmbio do dólar e de muitas outras moedas.
#japão #Dolar #economia #dinheiro #investimentos
13 Comments
Sou o primeiro
Primeiro
Assustando quem faz carry trade…
Vai Brasil. Torço para esse país dar certo. Espero que criemos uma unidade para todos terem prosperidade
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Tenso viu
Galipolo disse que a china vai comprar títulos da dívida brasileira. O que você acha?
❤
Eu devo, não nego. Pagarei quando puder.
Parece que muita tecnologia está fazendo mal🤔
Japão respira por aparelhos, demissões em massa pra todo lado la.
Esse é, de longe, o melhor vídeo do canal até hoje 👏👏👏
Feliz Pizza Day 🍕
Cara, o mais impressionante é que nenhum estado se preocupa em pagar a sua divida, todos querem apenas dar um jeito de rolar ela pra frente.
Parece que o conceito de gastar menos simplesmente não existe na cabeça dos governantes…