O avanço do partido do ‘Trump japonês’ | O ASSUNTO
São mais de 120 milhões de habitantes em um arquipélago no Oceano Pacífico, na Ásia. Com suas tradições milenares, o Japão é um país estável. Desde a Segunda Guerra Mundial não entrou mais em conflitos diretos e vive sem grandes turbulências econômicas e políticas há muito tempo. Ou vivia porque essa situação tem dado sinais de mudança. Em maio, o aumento do preço do arroz derrubou um ministro do governo. Questionado sobre o alto preço do arroz, alimento básico da culinária japonesa, Eto Taco disse que não precisava comprar o produto porque ganha de graça dos apoiadores e daria até para vender. Diante da enchurrada de reações negativas, ele anunciou a entrega do carro. E essa é só uma das frentes de um descontentamento crescente por lá e que chegou às urnas. O grande destaque do pleito foi o avanço do Partido ultranacionalista, defensor de uma pauta antiimigração, semelhante a de Donald Trump. É nesse cenário que o Partido Liberal Democrático, no poder, quase ininterruptamente desde 1955, perdeu a maioria dos assentos na Câmara Alta na última semana. Precisava conquistar 50 cadeiras para se manter no controle da casa, mas conquistou apenas 47. Apesar da derrota, o primeiro ministro Xigueruiu Iiba disse que vai permanecer no cargo. Em pronunciamento, Shigueriba prometeu combater a alta da inflação e negociar as tarifas impostas pelos Estados Unidos. O grande avanço mesmo veio do campo conservador e justamente de um partido novato de ultradireita nascido na pandemia, o Saneitô. O partido radical de direita saltou de um para 14 cadeiras, fortalecendo a oposição e entoando um discurso que pode nos parecer bem familiar. Japão em primeiro lugar, uma cópia escrita do discurso de Donald Trump nos Estados Unidos. Essa voz que você ouviu é justamente de Sorrei Câia do Partido Sitô. Ele é conhecido como Trump japonês. Nesse trecho que você ouviu, por exemplo, ele fazia críticas a repasses para as emergências climáticas e para o que ele chamou de ideologia de gênero. Da redação do G1, eu sou Natusaneri e o assunto hoje é agnada disruptiva no Japão, economia em crise e o avanço da ultradireita. Por que olhar pro resultado da eleição do país asiático? E o que explica o avanço de um partido cujo discurso se assemelha ao do presidente dos Estados Unidos. Meu convidado é Maurício Moura, professor da Universidade George Washington, nos Estados Unidos. Maurício acompanhou a eleição direto de Tóquio. Sexta-feira, 25 de julho. Maurício, no último domingo teve eleição no Japão e algo inesperado aconteceu há 70 anos que o Japão era governado pelo mesmo partido, o LDP. Que que houve? Essa eleição foi muito importante no Japão, né? E lembrando que o Japão tem um sistema político na que não é simples. É um sistema político bicameral, tem a Câmara Baixa que houve eleição da Câmara Baixa o ano passado, que é equivalente à nossa Câmara dos Deputados. Exatamente. Exatamente. Eh, houve a eleição da Câmara Baixa o ano passado, exatamente um ano, e o LDP, né, que é o Partido Democrático Liberal, eh, ele perdeu a maioria na Câmara Baixa, mas ele ainda tinha maioria na Câmara Alta, que foi justamente a eleição desse domingo, que é o equivalente ao Senado. Perfeito. A Câmara Alta tem 248 posições e o mandato para um representante na Câmara Alta dura 6 anos. A cada 3 anos tem eleição, porque eles, esse ano foram disputadas 124 vagas, que é a metade, e uma vaga que tava aberta, ou seja, foram 125 eh cadeiras que estavam em disputa. E o a eleição no Japão na ela ela não é simples. O eleitor vai pra UN, ele tem que fazer dois votos. Um voto é para um candidato a nível distrital e no caso é um é um turno só. Então tem vários candidatos no distrito, são 10 partidas no Japão. Quem tem mais voto já é o representante naquele distrito. São 70, esse ano foram 75 vagas nesse contexto. O outro voto é para é proporcional ao partido. Você vota no partido. Nesse aspecto é semelhante ao modelo alemão. Eh, mas então o eleitor tem que fazer duas escolhas. Vota no partido e vota no candidato dele do distrito. E é o o LDP e ele tinha uma coalizão, é, com um partido chamado comeito. Essa coalizão para manter a maioria na câmara alta precisava eleger 50 representantes. Só que eles ficaram na soma dos dois partidos dessa coalizão com 47. Então a gente tá falando de do LDP e do comeito. Do LDP e do Comeito. Comito, qual é a tendência política dele? É muito semelhante a do LDP. É um, e eles, eles têm uma tradição histórica de de coalisão. O que que aconteceu com um outro partido que começou pequenininho, não muito tempo atrás e que de repente atravessou o samba por lá? Queria que você falasse desse partido, o Sansitô. É, o Saneitor em japonês é fazer política. Eh, essa é a tradução. E ele começou, vê se se você se remete a alguma história. Começou com um engajamento online, né? Ele, o, o líder do Sanitô, criou um canal de YouTube aonde ele atraía debate político. É muito é muito curioso porque é um partido que surge do YouTube. Exatamente. Exatamente. Ele era um ele era um gerente de loja de departamento, assim, uma uma figura da classe média eh japonesa. E ele começou, durante a pandemia, ele começou a a atrair debate político no canal dele, eh, e com algumas narrativas que são bastante conhecidas a nível internacional. Eh, a política tá a política, todos os políticos são corruptos, a política não representa o cidadão comum. Eh, o Japão tá sendo tomado por imigrantes, eh, os valores da família estão sendo corroídos e com isso ele atraiu eh um ele começou a crescer na só crescer nas redes sociais, só para você ter uma noção, o partido dele tem mais seguidores nas redes sociais que o próprio LDP, que é um partido que tá representado em todos os cantos do Japão. E eles começaram nas redes sociais nessa eleição com um discurso bastante radical e um discurso que dialoga com essa agenda da da direita mais radical global, né? Não, assim, eu aprendi que parece que as coisas no Japão demoram a chegar, as ondas demoram a chegar e agora chegou essa onda. Faz sentido historicamente é assim, né? E aí o que esse foi interessante, assim, esse não foi surpresa porque houve uma eleição há dois meses atrás na grande Tóquio e nessa eleição da grande Tóquio eles já se eles já tiveram um crescimento bastante superlativo, assim, já se colocaram, foram muito bem, inclusive e aí a houve a sensação de que isso se ia refletir também na eleição nacional e eles ganharam 14 cadeiras, mas assim parece pouco, mas eles saíram de uma cadeira para 15, eles já tinham uma na câmera alta, passaram passaram a ser o terceiro partido. eh relevante no no no país. Lembrando que o LDP tinha um um partido de centro direita, oposição, o CDP, partido constitucionalista, mas que assim do ponto de vista dos japoneses, aliás, a gente fez pesquisa lá na Tuza, achei muito interessante que 60% dos japoneses não acreditam que nenhum desses partidos pode resolver o problema deles. Vamos dar uma parada aqui. é muito parecido com muitas histórias, inclusive a nossa aqui com bolsonarismo é parecido com o discurso que Trump faz, que outros líderes da direita mais radical andam fazendo mundo afora. O que me leva a acreditar que a gente tá falando de um movimento que parece um movimento sistêmico, né? o o Japão passa a integrar esse movimento ultradiritista que a gente vê mundo aa. Totalmente, totalmente. E e a é interessante que essas agendas elas a agenda e a narrativa ela se ela se expande, né, no mundo, né? A narrativa ele ataca basicamente a imigração e, aliás, fazendo um parêntese aqui, eh, ataca de alguma maneira a imigração brasileira lá. A imigração brasileira tem uma característica bastante particular, né? Porque o Japão passou uma lei que eh filhos de japoneses e até netos, que eles chamam de sansi podiam pleitear vistos de trabalho eh no Japão. E muitos brasileiros emigraram para lá eh para justamente trabalhar nas indústrias japonesas, fazer o trabalho pesado das indústrias. Eh, o Brasil, segundo tem oficialmente 200.000 brasileiros no Japão, mas dizem os números que tem pode ter 400.000 que metade estão de forma ilegal lá. A gente tá falando de que personagem? Qual é o nome deste político que era gerente de uma loja de departamento, que cria um canal do YouTube, que tem um discurso de ultradireita? Que personagem é esse? é um é um japonês, meia idade, chama Iá, que é a pronúncia até eh, desculpe meu japonês aqui, mas e ele e ele justamente ele é um líder jovem eh que se como você falou, se coloca como diferente de tudo que tá aí de fora da política. Ele ele foi eleito na Câmara Baixa, ou seja, ele já tava presente na na discussão na pauta da política japonesa, ou seja, mas ele conseguiu agora fazer e assim, isso também é uma tendência, né? Geralmente esses movimentos surgem como uma liderança. Eh, Portugal passou por isso agora recentemente. O André Ventura lá era uma liderança sozinho. Ele foi primeiro, ele entrou praticamente solo no Congresso português, agora é o segundo partido em Portugal. É o mesmo movimento, né? É uma liderança que depois puxa eh um movimento com as narrativas de migração, de antisistema e de corrupção, né? O nome dele é é o é o é o Sorreia. É isso? É Sorreikâia. Tá tá certa a minha pronúncia. Meu japonês tá ótimo. Sou agora, por que que ele sobe? Por que que ele cresce? O que que tá acontecendo no Japão para explicar a ascensão de um movimento assim? Eh, tem vários aspectos, né? O primeiro aspecto é que a o Japão agora tá convivendo com um processo inflacionário recente, uma inflação de 2, 3% ao ano, que historicamente é bem acima do que eles estavam acostumados a conviver. Eles tinham um processo de deflação durante décadas, ou seja, as pessoas mais poupavam do que consumi. O governo japonês fez um esforço tremendo fiscal para injetar a liquidez na economia. Eles tinham uma taxa de juros negativa, ou seja, que que uma taxa de que pune você manter dinheiro com você justamente para tentar estimular o consumo. Isso não aconteceu. Agora a inflação eh corrói o dia a dia, né, o rendimento das pessoas. E tem um item lá que é muito importante pra cultura japonesa, que é a inflação do arroz. O arroz subiu quase 50%. Eu, quando eu vi o gráfico do aumento do preço do arroz, é impressionante. Ele sobe muito rápido. O governo japonês tentou aumentar a oferta de arroz lá. Eles têm eh estoques de alguns produtos agrícolas, eles aumentaram o estoque e eles foram obrigados a a importar arroz. Isso aconteceu por alguma razão específica, questão climática, questão climática, oferta e demanda. Lembrando que parte do arroz era era produzido localmente, a produção local foi muito menor e para eles isso é uma crise, né? Porque o arroz faz parte da cultura gastronômica muito forte no Japão. Além disso, como houve essa perda de renda das pessoas, tem uma discussão muito grande da do da ordem de grandeza dos impostos que são pagos no Japão, teve uma discussão na campanha de dos partidos de oposição, né, os oito partidos de oposição, eh eh pedindo que houvesse um corte nos impostos de consumo. Inclusive, alguns partidos eh advogavam a ideia de de isentar o imposto de consumo. O primeiro ministro, Iiba, ele na reta final da campanha ele ele era contra esse diminuição de impostos por um argumento fiscal, mas na reta final da campanha para não, ele começou a distribuir recurso direto, né, dar dinheiro direto para ajudar as pessoas que foram afetadas pelo pelo pela perda de rendimento, pela perda de renda real e foi e foi acusado de ter sido insuficiente e ter sido eleitoreiro, né? Ele teve essa e a além disso, para completar essa onda toda, né, de inflação, de perda de renda, que é uma coisa que não é normal, o Japão tava no meio de uma negociação eh comercial com os Estados Unidos, que a negociação caiu no meio da campanha. A carta do Trump pro Japão foi a uma semana da votação, que é a taxação, a tarifa do Trump, né? É. E o primeiro- ministro Estiba, eh, foi obviamente afetado com isso. E uma das acusações da que circulou na opinião pública japonesa é que ele não fez o suficiente para para fechar a negociação. A negociação foi fechada um dia depois da eleição, que até meio eh cruel com ele, mas ele foi eh muito criticado por isso. E só para você uma ideia, o partido dele geralmente fazia 50% dos votos, o RDP. É. E nas eleições fizeram 32. Esses 18 foram distribuídos na oposição e muito desse foi para esse partido novo, o Senseitor. É, eu fiquei com uma dúvida sobre a comunidade brasileira lá. Existe algum tipo de discriminação, de atitude contra esses esses brasileiros? São os decassegs, né? São os decassegues. Exatamente. Olhando o discurso do Saneito, né? Discurso dele. E obviamente os brasileiros se encaixam bem nesse nesse público que eles criticam, né? Que que qual que é a crítica? da visão dele, né? é que os imigrantes vão para lá e não se adaptam à cultura, não se engajam no idioma, não fazem esforço para para fazer parte da sociedade japonesa, se inserir na cultura japonesa. E tem um argumento econômico que ele, eles dizem que aí é um argumento muito refutável, que eles não contribuem com impostos, com com as devidos tributos pr pra economia japonesa, que não é verdade, porque a maioria que tá lá paga imposto, enfim, os números são contra esse argumento, mas o o argumento central é que eles não não fazem parte, não se inserem e não se integram na na cultura japonesa. É um discurso bastante xenófobo, né? E lembrando que uma coisa importante da comunidade brasileira, é muito diferente a imigração brasileira pro Japão da imigração brasileira paraos Estados Unidos, por exemplo, pra Europa. É uma é uma imigração muito concentrada na da que vem do estado de São Paulo, muita gente do estado de São Paulo, diferente dos Estados Unidos, que tem uma concentração de gente Minas Gerais muito forte e obviamente que é um laço óbvio, essas pessoas têm uma conexão, uma raiz japonesa. Então a gente tá falando de brasileiros que t uma conexão familiar com o Japão, né? Sim. E tem lá uma população idosa muito grande, né? Eu tive no Japão em 2023 e me impressionou. Eu fiz muitos passeios com guias e todos os guias normalmente que eu os os que eu tinha comigo e os que eu via com outros turistas, porque lá tem a barreira da língua, né, muito muito muito forte, porque a grande maioria não fala não fala inglês, mas todos eram pessoas idosas. E eu perguntei, eu falei, falei: “Olha, eu noto que tem uma faixa etária de guias turísticos, porque você vai para outros lugares e normalmente eles são mais jovens.” E ele dizia o seguinte, ele falou: “Olha, a gente tem um problema sério aqui com previdência, a gente tem um problema sério aqui porque a gente, nossa boa parte do que a gente ganha de dinheiro, a gente paga de imposto e paga e se alimenta.” A gente se alimenta muito fora de casa, a gente quase não faz refeição. As residências são normalmente pequenas, né? São bem pequenas e a gente precisa de um complemento de renda. Então você vai encontrar muitos guias turísticos que depois de se aposentarem fazem um complemento de renda trabalhando como guias e portanto tem mais de 60, mais de 70. Eu eu fiz um passeio com um guia que tinha 80 anos de idade. Sobre o ponto de vista eleitoral, isso faz com que o eleitoral do Japão de alguma maneira seja muito conservador. Tanto é que o Japão eh das democracias do mundo é talvez seja politicamente o mais estável. O que tá acontecendo nessa eleição é um evento totalmente fora da curva paraos japoneses, né? A gente tá é um evento de um partido desconhecido crescendo, o partido que sempre teve no poder, perdendo a maioria nas duas casas. Então com uma liderança mais jovem. Exatamente. Exatamente. Isso é um problema seríssimo. E obviamente uma das soluções, né, quando a gente conversa com os demógrafos sobre Japão é obviamente a imigração, né? E isso não é um não é não é um tema exclusivo do Japão. Em vários países da Europa que tem problema de natalidade e de envelhecimento da população, também a imigração seria uma solução. E o que a gente vê é o aumento, o crescimento dos discursos antiigração. E outra coisa que é que é que é muito importante na no Japão que os níveis de comparecimento da eleição japonesa que ficam bastante abaixo de 50%, por exemplo, também são o que o fato que parte da população é envelhecida e vota menos também comparece menos. E obviamente isso isso ajudou a oposição porque o os votos dos jovens, que é um voto mais indignado, ele aumentou a proporção de da do total. Isso foi uma isso é uma dificuldade que o LDP teve, mobilizar voto dos jovens. Eles tentaram fazer alguns movimentos para para para tentar colocar alguns candidatos em distritos mais jovens, fazer uma renovação, mas não foi suficiente porque eles não tinham um argumento central de mudança, né? Espera um pouquinho que eu já volto para continuar minha conversa com Maurício. Eu me lembrei de um outro de um outro episódio. Eu tava em Osaka, que tinha sido a primeira cidade que eu parei para para conhecer. E um desses guias, o nome dele não era John, mas eles adotam nomes ocidentais americanos, que é para facilitar a a pronúncia. E eu fui conversando com ele, perguntando que quantos jornais havia ali em Oaka, quais eram as tendências desses jornais e tal. E ele disse: “Bom, aqui nós temos cinco jornais. Eu não me lembro se ele falava sobre Osaka ou sobre ou sobre o Japão como um todo, mas ele falou: “Olha, a gente tem cinco grandes jornais e cada jornal tem uma tendência política diferente”. E eu disse: “E qual jornal o senhor lê?” Aí ele respondeu: “Eu não vou te dizer”. Eu falei: “Não”. Ele falou: “Não, não vou te dizer porque eu não sei qual é a sua tendência política. Se a sua tendência política for diferente da minha, você não vai ter uma boa experiência aqui no Japão. E quando você voltar pro Brasil, você não vai chamar outros turistas para virem para cá, para trazerem divisas para cá.” E ele realmente não me disse. Até hoje eu não sei se ele era de centro, de direita, de centro direita, de esquerda, de centro esquerda. Ele não disse. Mas sabe uma coisa, Nata, acompanhando a eleição no Japão e na em Taiwan, o ano passado, eu aprendi uma um a gente do Ocidente, quando a gente vai para uma para uma disputa eleitoral polarizada, é praticamente um embate, né? E e os dois lados de alguma maneira se agridem bastante, né? a gente tem tá acostumado a uma campanhas cada vez mais duras, né, em rela violentas até, né? Exato. É, por exemplo, a gente teve a eleição do México ano passado que a gente teve eh dezenas de assassinatos mesmo, né? E tanto em Taiwan quanto no Japão, eh, tudo que eu tô falando aqui, a política é muito menos agressiva, tanto a a parte verbal do mesmo Sansito, o Sansito não se compara com Trump, com o que a gente viu aqui na América Latina, com o AFD da Alemanha, é mais sóbrio, totalmente assim mesmo, é mais ele não vai, ele não vai agredir os imigrantes assim, é é muito diferente. E em Taiwan, eu me lembro que é uma cena em Taiwan que me marcou muito. A gente estava vendo um ambiente muito polarizado na eleição lá, principalmente porque um lado pregava mais a autonomia de Taiwan, outro lado pregava mais a separação. Mas eles na rua faziam campanha junto, se misturavam, né? Misturavam. Aí tinha um comício de um, aí saía e o começo do outro um, a o grupo de um saía, o outro entrava assim no mesmo lugar. Eles não brigavam, eles não se hostilizavam. É, faz sentido no Japão essa contenção mesmo, porque eles são muito contidos. Isso na Ásia talvez seja uma lição assim de modos operand para pra política, né? Que no Ocidente a gente não tá vendo isso. Interessante isso. Não, no Ocidente vai-se para pras vias de fato, né? Eu queria falar um pouco mais da economia do Japão. Você já falou do arroz, a gente já abordou o envelhecimento da população, o que torna mais caro gasto público, naturalmente, porque tem despesa previdenciária, despesa com saúde, por aí vai. O Japão também perdeu o posto de terceira maior economia do mundo. Do ponto de vista macroeconômico, a gente tá falando de um país também super endividado. Como é que isso influenciou nessas eleições? parte desse endividamento, essa relação dívida píbica que passa dos 200%, né? É muita coisa, né? É, é, é justamente essas décadas onde eles tiveram que fazer um esforço fiscal para estimular o consumo. Claro que eh em economia você sabe, o problema não é o tamanho da dívida, mas é a tua capacidade de refinanciá-la e os prazos que você refinancia sua dívida. Claro que o o Japão sempre atraiu capital por questões óbvias, é um país sólido, uma economia estável. Então eles de alguma maneira sustentaram isso. Mas esse é um problema eh real na campanha, trazendo pra campanha de novo, porque o governo vai precisar fazer um esforço fiscal eh para reduzir essa relação dívida PIB. Lembrando que agora, diferente do passado, eles estão com taxa de juro real, ou seja, eles estão com uma taxa de luz positiva, ou seja, quando a taxa de luz aumenta, os encargos da dívida também aumentam. Então agora eles estão numa situação que é uma que é diferente você tá com uma taxa de uso negativa quando você tem que financiar a dívida. Eh, eh, então teve uma discussão muito grande sobre o governo dizendo que não dava para baixar imposto e a e a oposição puxando e exigindo que bastasse o imposto de consumo. Ou seja, na campanha essa questão fiscal foi debatida. Aliás, é diferente de várias lugares do mundo que eu que eu acompanho. No Japão teve uma discussão de política fiscal, né? E essa discussão passou essencialmente para essa questão do imposto, não é? O governo japonês não é de agora, não essa só gestão do Iiba, mas as gestões anteriores estava fazendo um esforço para que japoneses que têm dinheiro no exterior passassem a trazer esse recurso pro Japão, principalmente para pr pra bolsa de valores que passassem a investir na nas bolsas nas empresas japonesas que estão listadas. Lembrando que sempre existia uma polêmica sobre a governança das empresas japonesas, sempre eram era um argumento de que a bolsa de toque poderia ser muito melhor se houvesse uma confiança maior na governança de várias empresas. Então, tem um esforço de trazer recurso dos japoneses de que estão investidos no interior para dentro também. E também na apareceu na campanha uma discussão que é uma discussão recente que a gente tem hoje no mundo dólar se desvalorizando em diversas moedas. a gente e e uma das moedas que tá que é uma opção ao dólar nesse contexto novo que a gente vê é o IEN. A gente teve o euro se valorizando, a gente teve o o franco suíço se valorizando e agora o I, o que tem os dois lados, né? Quando você valoriza a moeda, impacta todas as exportações, mas também você tem o você tem o impacto da inflação também. Então eles estão vivendo uma situação é muito complexa e para na minha opinião, para piorar, esse é um governo fraco, né? Porque se o Itiba continuar, até esse momento que a gente tá gravando aqui, ele disse que vai continuar como primeiro-ministro num governo de minoria, que na prática significa você basicamente negociar tema a tema, né, e entregar tudo, né? Sim. E entregar tudo. Então, numa situação que ele tem que fazer aperto fiscal, que tem que lidar com a oposição, na verdade é uma situação, do ponto de vista político, bastante frágil, né? Bom, eu quero falar então pra gente finalizar de como ficou o acordo entre Estados Unidos e Japão. O Trump começou prometendo, ameaçando taxar o Japão em quanto e ficou em quanto? É, ele ameaçou taxar em 30%, né? Eh, e eles fecharam acordo de tarifas recíprocas de 15%. Os Estados Unidos decidiram diminuir a tarifa para os produtos japoneses a partir do dia 1eo de agosto. Será de 15% em vez dos 25% anunciados antes por Trump. Hoje, a Casa Branca afirmou que as importações de remédios e de semicondutores serão negociadas à parte, mas garantiu que o Japão não será tratado pior do que outros parceiros comerciais. Os carros japoneses também terão tarifa de 15%, além da tarifa de 2,5% já existente. Em troca, o Japão concordou em abrir o país para importações de carros americanos, caminhões, arroz e outros produtos agrícolas. O Japão é um dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos, mas a balança é desigual. No ano passado, os americanos importaram 70 bilhões de dólares a mais do que venderam para os japoneses. Nesses acordos comerciais, o Diabo mora nos detalhes, né? Não é? Então, por exemplo, o que aconteceu no setor automobilístico japonês, especificamente, ele pagava 25, vai passar pagar 15 e as ações, por exemplo, da Toyota e da Honda dispararam no mercado, porque assim, eles vão, obviamente pagar menos eh imposto. Por outro lado, o Trump anunciou que o Japão vai investir mais ou menos 600 bilhões de dólares e nos Estados Unidos. Agora, na média, o consumidor americano vai pagar mais pelos produtos japoneses, porque tinha uma média de 5%, passou para 15. E alguns setores ficaram completamente de fora, setor de aço, alumínio, que são setores que o Trump tá impondo tarifas independente do país. Esses setores ficaram de fora. Para rematar, você estuda processos eleitorais no mundo inteiro. A gente já fez episódios aqui em diferentes países e o mais longe que nós fomos foi agora com o Japão. Em termos de fenômeno mundial, por que que é importante falar de Japão? Por vários motivos. Do ponto de vista econômico, como você mencionou, o Japão é uma das economias mais importantes do mundo. E e do ponto de vista geopolítico, o Japão hoje tá numa situação muito importante ali, porque ele tem que lidar, ele é um parceiro histórico comercial americano, mas ele tem que ir tanto eh comercial e militar, eh, e ele tem que lidar ali com a China também, né? A relação do do Japão com a China é uma relação bastante complexa, assim, eh, e uma e obviamente ele é uma democracia, né? a gente tá vivendo um período, como você sabe, né, na TZA, de expansão ou e das autocracias do mundo. Então, assim, o Japão é é um e é muito, na verdade, é muito ruim do ponto de vista geopolítico um governo enfraquecido no Japão, né? Porque ele vai ter que tocar essas agendas da relação com a China, da relação com os Estados Unidos e da presença do Japão a nível global, né? E para mim o que surpreende é o fato de de o Japão ser esse país mais fechado do ponto de vista dos grandes movimentos sociais e políticos e agora estar suscetível e vivendo ele próprio processos que a gente vive aqui no Brasil e que outras democracias passam nesse momento aa também, né? É verdade, é verdade. Mas e é interessante que o sistema, esses sistemas parlamentaristas proporcionais, eles têm um freio de arrumação para partidos extremistas, independente do lado ideológico, de muito mais acomodação do que o sistema, obviamente majoritário, binário, eh, que a gente tem nos sistemas presidencialistas, né? Então, mesmo que teve os partidos, obviamente os partidos de centro, eh, perderam espaço, mas mesmo assim eles continuam eh como a maioria dos votos, né? Quando você tem, você fala desse freio de arrumação, você tá dizendo o que exatamente? É muito difícil um partido com ideias extremas, seja de esquerda ou seja de direita, chegar ao poder no Japão, porque justamente o voto é é distrital, o voto é proporcional. É como aconteceu na Alemanha também, né? O AFD ele cresceu muito, mas ele ele não conseguia extrema direita direita. em algum momento tudo se arranja para evitar que isso que isso aconteça. Que é diferente de um sistema presidencialista que você eventualmente pode ter dois candidatos de extremos num segundo turno. A gente é possível, por exemplo, na França em 2017 a gente ter um candidato da extrema esquerda e a extrema direita no segundo turno na França. Maurício, eu adorei ter você aqui no estúdio. Acho melhor você passar mais vezes, mais temporadas no Brasil pra gente poder fazer assim um mais episódios juntinhos aqui, um de frente pro outro. Não, obrigado pelo convite. Me vendendo que poucas pessoas vem no estúdio, então é uma honra aqui. É verdade, poucos assunters. Obrigada. Um beijão. Se você ouviu o episódio até aqui, eu vou te fazer um convite, baixar o aplicativo do G1 no seu celular. Por lá você pode ouvir o assunto, claro, e pode também acompanhar todas as notícias do dia em tempo real e de graça. Este foi o assunto podcast diário disponível no G1, no YouTube ou na sua plataforma de áudio preferida. Comigo na equipe do assunto estão Mônica Mariote, Amanda Polato, Sara Rezende, Luiz Felipe Silva, Thiago Casurossk e Carlos Catelã. Eu sou Natusaner e fico por aqui. Até o próximo assunto.
Historicamente, a economia e a política do Japão são marcadas por estabilidade. Desde 1955, o Partido Liberal Democrático governa o país quase que ininterruptamente. Essa previsibilidade, no entanto, tem apresentado sinais de desgaste. Desde a pandemia do coronavírus, um novo padrão de inflação se estabeleceu, e um dos produtos mais afetados foi o arroz. Em maio, um ministro do governo renunciou após fazer piada sobre o preço do produto.
O descontentamento com a economia teve efeito nas urnas. No último domingo (20), os japoneses impuseram ao partido do governo uma derrota histórica. Apesar de ter sido o mais votado, o PLD não alcançou as 50 cadeiras da Câmara Alta para manter o controle do parlamento.
O maior vencedor do pleito foi um partido jovem, nascido durante a pandemia. O Sanseito saltou de 1 para 14 cadeiras. O líder da sigla é conhecido como “Trump japonês”, justamente por ter um discurso alinhado com o do presidente dos Estados Unidos: pauta anti-imigração e o lema “Japão em primeiro lugar”.
Neste episódio, Natuza Nery recebe Mauricio Moura. Professor da Universidade George Washington, nos EUA, Mauricio acompanhou a eleição em Tóquio. Ele explica por que a pressão de Donald Trump para a negociação de tarifas foi decisiva para o resultado da eleição. Na conversa, Mauricio responde também sobre os impactos para os brasileiros que vivem no país.
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6 Comments
O Fascismo é o botão de emergência do capitalismo.
Faz sentido essa movimentação da extrema direita no mundo.
E la e votação digital ou manual?
Acho de uma ingratidão esses países que no passado tiveram seus povos imigrando pra outros países pra não morrerem na guerra ou de fome, hoje serem hostis com imigração, especialmente vinda desses países aonde muito dos seus conterrâneos imigraram.. espero que o Brasil não perca a memória, bom lembrar dos que querem bater a porta na nossa cara, ninguém sabe do dia de amanhã.
Qual a porcentagem da taxa de impostos? Quais os impostos cobrados?
Extremismo no Japão temos que tomar cuidado, que estudou história sabe o que eles fizeram durante a segunda Guerra.. ainda bem que a China hoje tem armas nucleares, não haverá outros massacre de Nanquin.
Qual a idade de aposentadoria (homens e mulheres)?